Para o primeiro-ministro, o governo, neste dois anos de governação, cumpriu com êxito o programa de ajustamento e o país está numa situação de evolução positiva.
Eu senti o efeito de cortes nos meus rendimentos, vi familiares no desemprego, conheci pessoas que tiveram de entregar a casa ao banco, vi restaurantes e lojas que frequentava há muitos anos, encerrarem.
Mas vivo noutro país ou o primeiro-ministro se refere a um pais do faz de conta...
O Presidente da República afirmou, em Junho, que "Apesar da austeridade, famílias em risco de pobreza, grande desemprego, vale a pena sublinhar que se mantém a coesão nacional, que não há desestruturação social no nosso país",
Só num país do faz de conta, um milhão de desempregados, o aumento do número de cidadãos a viverem abaixo do limiar de pobreza, a perda da casa que com tanto sacrifício adquiriram, a ajuda dos pais que com a sua depauperada reforma ainda ajudam os filhos desempregados, a corrida ao banco Alimentar e a ruína dos pequenos e médios empresários, não reflecte uma desestruturação social.
Só num país do faz de conta seriam verdadeiras a sondagens CM/Aximage em que 53 por cento dos inquiridos responderam que o chefe do Governo deveria manter-se em funções, contra 25,3 que aposta em eleições antecipadas.
No país em que eu vivo, no dia 27 de junho, houve uma greve geral com forte adesão e muito superior às anteriores e temos vindo a assistir a manifestações com centenas de milhar de cidadãos na rua, alguns a fazê-lo pela primeira vez, na sua vida.
O Portugal em que vivo, não é, o Portugal a que eles se referem.